segunda-feira, agosto 21, 2006

Dicionário do Amor (Antologia de poemas de amor). Letra D: Discrição

Bilhete


Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...


Mário Quintana

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segunda-feira, agosto 14, 2006

Dicionário do Amor (Antologia de poemas de amor). Letra D: Dia Seguinte

Dia Seguinte ao Amor


Quando a luz estender a roupa nos telhados
E for todo o horizonte um frêmito de palmas
E junto ao leito fundo de nossas duas almas
Chamarem nossos corpo nus, entrelaçados,

Seremos, na manhã, duas máscaras calmas
E felizes, de grandes olhos claros e rasgados...
Depois, volvendo ao sol as nossas quatro palmas,
Encheremos o céu de vôos encantados!...

E as rosas da Cidade inda serão mais rosas,
Serão todos felizes, sem saber por quê...
Até os cegos, os entrevadinhos... E

Vestidos, contra o azul, de tons vibrantes e violentos,
Nós improvisaremos danças espantosas
Sobre os telhados altos, entre o fumo e os cataventos!


Mário Quintana

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sexta-feira, agosto 11, 2006

Dicionário do Amor (Antologia de poemas de amor). Letra D: Destruição

Destruição



Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
Quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.

Nada, ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.

e eles quedam mordidos para sempre.
Deixaram de existir mas o existido
Continua a doer eternamente.


Carlos Drummond de Andrade

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sexta-feira, agosto 04, 2006

Dicionário do Amor (Antologia de poemas de amor). Letra D: Despedida

DESPEDIDA


Meu amor na despedida
Nem uma fala me deu;
Deitou os olhos no chão
Ficou a chorar mais eu.
Demos as mãos na certeza
De que as dávamos amando;
Mas, ai!, aquela tristeza
Que há sempre neste “Até quando?”,
- Numa lágrima surgiu
E pela face correu...
- Nada pudemos dizer,
Ficou a chorar mais eu.


Antônio Botto

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